Um ginásio esquecido

Publicado em 11/06/2014, aqui

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Dois irmãos. O mais velho teve sorte. Ganhou roupa nova e agora recebe todos os holofotes. Ficou bonito, realmente. O caçula parece ter sido jogado para escanteio. Inaugurado em 1980, com o status de maior da América Latina, o ginásio Jornalista Felipe Drummond, o Mineirinho, carece de melhorias estruturais e internas. Que o diga o Campeonato Mundial de Clubes de Vôlei, disputado em maio. Foi uma correria para ajustá-lo às necessidades do torneio, vencido pela equipe russa do Belogorie Belgorod.

Às vésperas de ser entregue à Fifa, quando se transformará em vila de hospitalidade para receber convidados especiais como Mick Jagger, Bono Vox e o príncipe Harry, Encontro visitou o ginásio e constatou que, por dentro, ele não anda tão badalado assim. Presença de lonas, problemas no piso, ausência de cadeiras nas arquibancadas e infiltrações. Nos bastidores, a palavra reforma sempre é levantada, contudo, ainda na esfera dos projetos. O que deve sair em breve são intervenções na fachada e cobertura. Resta saber quando o Mineirinho ganhará cara nova.

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Rogério Romero, secretário Adjunto de Esportes do estado, informa que o edital para contratação do projeto de reforma e modernização está sendo finalizado e deve ser publicado em breve, mas sem data de início dos trabalhos. “As obras estruturais (fachada e cobertura) aguardam retorno de parecer técnico do Ministério dos Esportes”, afirma. O ginásio chegou a ser contemplado no primeiro projeto de reforma do Mineirão, contudo, devido aos altos custos, a ideia teve de ser adiada.

O Mineirinho foi construído para fortalecer o esporte especializado no estado, exemplo do que o Mineirão fez com o futebol. Começou a ser erguido em 1973, como continuidade ao projeto do Centro Esportivo Universitário (CEU) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), obra que só foi possível a partir de convênio firmado entre a Ademg e a UFMG, proprietária do terreno de 93 mil m². A construção foi paralisada e retomada em 1977. Três anos depois, o Mineirinho foi inaugurado. Quem está na torcida para que o espaço seja, enfim, revitalizado é Ricardo Raso, engenheiro responsável pelo Mineirinho. “Ele era moderno em 1980, mas hoje as coisas deixam de ser modernas muito rapidamente”, diz Ricardo, que foi estagiário da construção. Ele  conhece bem cada detalhe do ginásio e até curiosidades, como a quantidade de sacos de cimento utilizados. “Foram 280 mil, enquanto no Mineirão foram 320 mil”, afirma o também superintendente de Gestão de Espaços Esportivos do estado.

Para a esperada reforma, não serão necessários tantos sacos de cimento, já que a estrutura do Mineirinho, tombada pelo patrimônio, será preservada. Entretanto, há muito o que ser consertado ou adequado às normas atuais. Para se ter ideia, a cabine de imprensa teve de ser improvisada para os eventos de vôlei deste ano, usando-se o modelo das estruturas do Mineirão. Os problemas não param por aí. Por estarem danificadas, algumas cadeiras foram retiradas, por isso, há lacunas nas arquibancadas.

Para Teodomiro Mattos Bicalho, assessor técnico do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do estado (Crea-MG), o momento agora pede calma. “Não adianta correr ou optar por paliativos. É importante verificar todos os problemas, fazer uma inspeção minuciosa e só depois elaborar projetos executivos, montar o orçamento e estabelecer um cronograma”, afirma. Apesar de todo esse detalhamento, surpresas podem surgir durante a obra, sobretudo, numa edificação com mais de 30 anos.

De templo dos esportes especializados, na década de 1980, o Mineirinho passou a ser um bom espaço para feiras e formaturas, mas alguns esportes ainda têm o ginásio como casa. É o caso do jiu-jítsu. Lá, são realizadas competições estaduais, desde a construção. “Onde posso colocar mais de 900 competidores de uma vez só?”, é o que questiona Adair Alves de Almeida, presidente da Federação Mineira de Jiu-Jítsu. O ginásio possui ainda 40 salas para uso das federações esportivas, porém, apenas 12 continuam em funcionamento, como judô, arco e flecha, basquete e levantamento de peso.

De um lado, o tamanho de 54.092 m² (quatro vezes o Maracanãzinho, no Rio de Janeiro) joga a favor, de outro, contra.  “Os produtores de shows pensam da seguinte forma: é melhor dividir o público em dois dias num espaço menor do que no Mineirinho, que é muito grande e pode dar a sensação de que o show está vazio”, diz Ricardo Raso, engenheiro responsável pelo ginásio. Carlos Aberto de Deus, diretor da BHZ Eventos, conhece bem como é produzir um show no Mineirinho. Foi ele quem trouxe, por mais de 20 anos, o cantor Roberto Carlos para se apresentar no ginásio, inclusive, na inauguração, em 1980. “Ainda inacabado, diga-se de passagem”, afirma Carlos, que teve que se virar para que o público e o cantor não sofressem tanto com os percalços. “O Mineirinho sempre foi um problema para os produtores de shows. Já tive de transformar vestiários em camarins, colocar tapetes nas cadeiras para melhorar a acústica e até controlar o acesso de pessoas sem ingresso, já que o ginásio tinha várias entradas clandestinas”, afirma. Carlos Alberto lembra que foi convidado a produzir o show do violonista e compositor holandês André Rieu, que aterrissou em BH em abril do ano passado, mas não aceitou. “André Rieu no Mineirinho não dá”, diz. O espetáculo acabou sendo produzido pelo paulista Manoel Poladian.

Mesmo com todos esses problemas, o vizinho do Mineirão coleciona recordes de público (veja info) em sua história. Um deles foi em 1990, quando, em um só dia, mais de 30 mil pessoas assistiram ao show dos Titãs. Olhando para o ginásio, o ex-nadador e atual secretário-adjunto de Esportes do estado, Rogério Romero, diz-se aliviado, já que pelo menos os projetos estão sendo encaminhados para a tão desejada reforma. “Isso aqui tem um potencial enorme”, diz. Então, estamos na torcida!

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