Grandes participantes e boas palestras marcaram o Congresso de Ciência do Esporte e Legado Olímpico

Publicado em 10/06/2016, aqui

O Congresso de Ciência do Esporte e Legado Olímpico reuniu pesquisadores, palestrantes internacionais e autoridades, como o Secretário de Estado de Esportes, Carlos Henrique Alves, o reitor da UFMG, Jaime Ramírez, o diretor do Minas Tênis Clube, Carlos Antônio da Rocha e o Cônsul Geral do Reino Unido no Brasil, Jonatan Dunn.

O evento que aconteceu nos últimos dias 8 e 9 de junho, no CAD 1, tinha como objetivo intensificar contatos acadêmicos na área de Ciência do Esporte, através da participação de especialistas e pesquisadores da área.

PRIMEIRO DIA

As palestras do primeiro dia do Congresso abordaram temas variados. As sessões da manhã foram iniciadas por Bryan Clift, da University of Bath, que destacou diferentes formas de legado que uma Olimpíada traz para um país: legados esportivo, social, ambiental, urbano, econômico e político. Bryan apontou mudanças já ocorridas no Rio de Janeiro, como melhorias na qualidade do ar, transporte e segurança, preservação da floresta urbana e plantação de novas árvores.

O Diretor de Esporte de base e Alto rendimento do Ministério do Esporte, Guilherme Angelo Raso, apresentou diversos programas do Governo Federal de incentivo ao esporte, como “Atleta na Escola”, “Esporte na Escola”, “Segundo Tempo” e “Mais Educação”. Guilherme também destacou os Centros de iniciação esportivas (CIES), criados em todo o País, os investimentos a clubes formadores de atletas e o Bolsa Atleta. Rogério Romero, atual gerente de esportes do Minas Tênis Clube, contribuiu com uma apresentação do MTC, falando sobre sua estrutura e atual gestão.

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A contradição entre os patrocinadores de atletas e times olímpicos (como marcas de refrigerante e redes de fast-food) e o estilo de vida saudável que o evento deveria incentivar foi a chave do debate proposto por Joe Piggin, neozelandês da Loughborough University. Joe questionou como seria uma publicidade ideal para o incentivo da prática de esportes.

Ricardo Leyser, ministro do Esporte do governo Dilma Roussef, deu prosseguimento às discussões tratando da questão dos investimentos governamentais para os esportes olímpicos. A meta, para estes jogos, é que o Brasil fique entre os 10 primeiros países na classificação olímpica e entre os cinco primeiros no ranking paralímpico.

Finalizando o primeiro dia do Congresso, Sakis Pappous, professor de Ciências do Esporte da University of Kent (Inglaterra), abordou a necessidade em se ultrapassar os estereótipos na representação de atletas paralímpicos. Na mídia, segundo ele, é comum esportistas serem fotografados de forma a esconder o corpo deficiente, passivos – deixando a cena – ou apelando para o lado emocional.  Atualmente, Sakis está desenvolvendo um projeto de análise das coberturas dos Jogos Paralímpicos de 1992 a 2012, para o posterior desenvolvimento de um guia de mídia para jornalistas que transformem essa relação estereotipada.

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SEGUNDO DIA

Na manhã da última quinta-feira, 9 de junho, o Congresso contou com a realização de duas mesas redondas. A primeira delas, aberta com a palestra do professor da Anglia Ruskin University, Dan Gordon, trazia como tema central “Overtraining e Recuperação”. O “Overtraining” acontece quando é exigido muito do corpo do atleta sem que haja tempo para recuperação. No entanto, o processo é mais complexo, como explicou o professor e ex-atleta britânico. Para identificar o overtraining é necessária a análise de uma combinação dos fatores, como o hormonal, psicológico, biológico e sobre a performance do atleta.

O palestrante que apresentou a perspectiva profissional e prática dos estudos na área de Ciências do Esporte foi Roberto Chiari Quintão, graduado em Educação Física pela UFMG e atual fisiologista do Clube Atlético Mineiro. Roberto expôs os desafios para profissionais do futebol causados pelo overtraining e pela fadiga mental, principalmente no intenso calendário esportivo nacional. Além disso, o fisiologista apresentou uma série de dados comparativos realizados em duas temporadas, que demonstraram como o rendimento da equipe relaciona-se com o tempo de recuperação, a faixa etária, o tipo de treinamento e o nível de competitividade em cada partida.

Ainda nesta mesa, palestrou o professor da EEFFTO, Marco Túlio de Mello, referência mundial em pesquisas do sono e coordenador do Centro de Estudos em Psicobiologia e Exercício (CEPE), do Instituto do Sono, relatou a importância do sono para a potencialização e o desenvolvimento do rendimento do atleta. A ação de dormir também atua como um elemento essencial para a recuperação do profissional e para a prevenção de lesões.

A segunda mesa da manhã abordou a otimização do treinamento de resistência. Nela estiveram presentes Samuele Marcora, professor da University of Kent, Dr. Fábio Nakamura, professor da Universidade Estadual de Londrina e Eduardo Almeida, treinador da equipe de natação do Minas Tênis Clube.

Os palestrantes apresentaram as vertentes acadêmicas e práticas das Ciências do Esporte aplicadas ao treinamento de resistência,. O professor Samuele Marcora, da University of Kent, apresentou as especificidades do modelo fisiológico moderno, a relação da fadiga mental com a performance esportiva e métodos para potencializar o treinamento do atleta. Já o professor Fábio Nakamura questionou a indução do “overreaching” sob a lógica do treinamento, e em sua pesquisa, propõe a utilização de ferramentas para otimizar o treino do esportista, como o uso da variabilidade da frequência cardíaca. Eduardo Almeida encerrou a segunda mesa debatendo o uso profissional dos conhecimentos da área de Ciências do Esporte para o desenvolvimento do treinamento e dos atletas, através dos treinos específicos realizados pela equipe de natação do Minas Tênis Clube.

A tarde do dia 9 foi aberta com a mesa “O efeito do engajamento publico para Jogos Paralímpicos e Olímpicos em atividade física”. Luciano Sales, diretor do CTE, Lisa Hodgson, da University of Nottingham, e Dan Gordon apontaram o esporte como importante ferramenta de combate à obesidade em países em que ela é uma epidemia. Eles refletiram sobre o legado dos últimos jogos olímpicos para a prática de esportes das populações e apontaram que, a longo prazo, incentivos à saúde por meio de atividade física não estão sendo efetivados. O Comitê Olímpico Internacional estabelece que países, para se tornarem sedes dos Jogos, precisam comprovar sua capacidade de promover melhorias a cidades, cidadãos e comunidades por meio do evento.

Na mesa seguinte, “Exercício, Nutrição e Desempenho”, Javier Gonzáles, pesquisador da University of Bath, se apresentou brevemente por ligação no Skype e comentou sobre ingestão de carboidratos antes, durante e depois de atividades físicas. Já o ex-professor da EEFFTO, Emerson Silami, atual professor da UFMA, focou na abordagem da reposição hídrica na prática de esportes. Ele explicou que a reposição hídrica tem que estar em concordância com o gasto no treino, ou seja, a ingestão de bebidas deve ser mensurada. Por último, Felipe Shang, nutricionista do Centro de Treinamento Esportivo (CTE), falou sobre avaliação física de atletas de diferentes idades e em como ela se diferencia em função da faixa etária.

Em “Estratégias para a Prevenção de Lesões”, Lisa Hodgson apresentou estratégias para evitar lesões em competições e mostrou vídeos de atletas lesionados. Ela também explicou que a maioria dos órgãos gestores, como a FIFA, têm políticas para prevenção de lesões.

O diretor da EEFFTO, Sérgio Teixeira, em sua contribuição para a mesa, disse que fisioterapeutas não tratam de doenças, mas de indivíduos suscetíveis a elas. Sérgio criticou o modelo linear de observação do surgimento da lesão, no qual o fator de risco tem consequência direta no ferimento. O diretor disse que esse sistema busca repostas por meio de uma suposição equivocada e apontou a existência de outros fatores a serem considerados. Ao lado de Natalia Bittencourt, do Departamento de Integração das Ciências do Esporte do MTC, e outros pesquisadores, Sérgio realiza um estudo que propõe pensar num sistema complexo, onde fatores que levam à lesão são como uma teia. Natália ressaltou o papel do fisioterapeuta de prevenção e não apenas de caráter combativo.

Finalizando o Congresso, Luciano Sales participou da mesa “Treinamento para crianças e jovens”. Luciano apontou que o treinamento de crianças depende do nível maturacional e que elas perdem calor mais fácil que os adultos. Ele também disse que crianças não são menos treináveis, porém a intensidade do treino deve ser considerada. Segundo ele, crianças adoram vencer, mas não gostam da pressão para fazê-lo. Dan Gordon contribuiu com a mesa falando sobre as adaptações que devem ser feitas em treinos de crianças. Mauro Dinis, coordenador das categorias de base do MTC, fechou a palestra falando sobre treinos variados de acordo com as categorias (petizes, infantil, juvenil e juniores).

O evento foi finalizado com uma visita ao CTE na noite do dia 9.

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